O novo já nasceu velho na disputa majoritária de Alagoas. E o eleitor parece indiferente ao cardápio que lhe foi oferecido. É tanta “novidade” na disputa pela sucessão de Teotonio Vilela Filho (PSDB) que o eleitor pode até ficar confuso, se não estiver bem informado, claro.
Por isso, o blog resolveu voltar a traduzir para o bom Português os motes de campanha dos três candidatos a governador de Alagoas que lideram as intenções de voto da última pesquisa do Ibope (
leia sobre a pesquisa aqui).
Veja que todos têm algo de muito velho e estático em comum, por ordem de pontuação no Ibope:
Renan Filho (PMDB)
Na pré-campanha, o candidato Renan Filho (PSDB) usou o lema “Um novo caminho para Alagoas”. Novo em idade, o peemedebista de 34 anos está ao lado do que há de mais tradicional na política de Alagoas e do Brasil, na coligação “Com o povo para Alagoas Mudar” (PV, PT do B, PMDB, PROS, PC do B, PSC, PHS, PTB, PSD, PDT e PT).
Não se trata apenas do pai Renan Calheiros (PMDB), que preside o Senado pela terceira vez. Renan Filho quer convencer o eleitor que esse “novo caminho” tem como elemento indispensável a reeleição do ex-presidente da República Fernando Collor (PTB), candidato a senador em sua chapa.
Este grupo agora quer mostrar que Alagoas deve mudar o rumo da política trilhada pelo governo Téo. Mas o eleitor deve lembrar foi Renan que cuidou do pré-natal do atual governo tucano, com o apoio do então governador Ronaldo Lessa (PDT), hoje coordenador político da coligação também chamada de Frente de Oposição. Mas ninguém vai assumir essa paternidade numa época dessa.
A coligação do peemedebista também apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff – do PT de Lula que governa a nação com o apoio do grupo político de Renan Filho há quase 12 anos.
Nos primeiros quatro anos desta Era Petista, quem governava Alagoas em seu segundo mandato era Lessa. Além de ter acusado Fernando Collor de roubo em uma de suas campanhas (
veja o vídeo), Lessa constrangeu Lula durante a inauguração do Aeroporto Zumbi dos Palmares, em 2005, afirmando que o petista “enterrou o País”.
O Lula que hoje abraça Collor no palanque de Renan Filho é o mesmo que foi acusado de ter sugerido o aborto da filha Lurian à sua mãe Miriam, no escândalo histórico arquitetado pela campanha do ex-presidente alagoano em 1989, e veiculado em sua propaganda eleitoral. E o PT de Dilma e Lula é o mesmo a quem Collor acusou de possuir prefeituras ligadas a cobranças de propina.
Renan Filho ainda tem como apoiador o ex-prefeito de Maceió, Cícero Almeida (PRTB), que estava no palanque de Benedito de Lira (PP) e de Téo há quatro anos.
Agora, o eleitor precisa confiar que um projeto de governo de Renan Filho irá superar os vícios das práticas políticas recentes deste grupo formado por políticos de carreira que, apesar de estarem no poder há tantos anos, não evitaram a manutenção e o agravamento dos trágicos índices sociais de Alagoas, na criminalidade, educação e desenvolvimento humano.
Não foi herdado por Renan Filho apenas o peso dos escândalos de proporção nacional em que o pai se envolveu. Por isso, o candidato lançou mão da construção popular e democrática de um plano de governo. E Renan pai jura que o Filho é feito das virtudes pinçadas do resultado de pesquisas qualitativas sobre os desejos do eleitorado.
O candidato peemedebista se apresenta como “produto perfeito”, com embalagem atraente e conteúdo a conferir.
Benedito de Lira (PP)
Do lado da coligação “Juntos com o povo para Alagoas mudar” (PPS, PP, PSDC, PRP, PR, PSL, PSB, DEM, SD), o candidato a governador Benedito de Lira se apresenta como o político capaz de resolver os problemas de Alagoas. O senador eleito em 2010 na chapa majoritária de Teotonio Vilela Filho apelava até abril pelo apoio do governador tucano. E também ficou decepcionado com o fato de o PT de Dilma lhe virar as costas quando ele mais precisava.
Enquanto lutava pelo apoio de Téo e Dilma, Biu flertava com o projeto presidencial de Eduardo Campos. Sem opção, conseguiu, em uma única cartada, formar aliança com o PSB de Campos e outros partidos da base Téo. E se voltou, de uma só vez, contra ex-aliados tucanos e petistas que rejeitaram seu projeto de governar o Estado. Mas no último instante, ganhou o DEM como aliado, e Omar Coelho tornou-se um candidato a senador que pede votos para Aécio Neves, adversário de Dilma e de Campos. Ninguém é de ninguém nesse palanque.
Com 72 anos de idade, Biu de Lira quer a todo o momento se afirmar como homem saudável e capaz de trabalhar. Não se pode condenar Biu por se eleger senador em 2010, explorando a falta de talento para a dança e fazendo graça com anedotas agressivas ditas por personagem de animação. Mas está claro que os debates de propostas na disputa pelo comando do Executivo vão exigir muito mais que a caricatura de um candidato engracadinho e com frases de efeito na ponta da língua.
O usineiro João Lyra, deputado federal pelo PSD, é mais um aliado da velha “açucarocracia” alagoana que Biu tentou concentrar ao seu lado. Mas o deputado federal e industrial à beira da falência cedeu à pressão do PSD nacional e se aliou a Renan Filho.
Biu se contentou em ter outro deputado federal usineiro em seu palanque, Alexandre Toledo (PSB), como vice. Mas o senador já tinha relação próxima com a oligarquia do açúcar. Seu suplente é o usineiro Givago Tenório (PSDB), que assume o mandato em agosto, quando Biu se licenciar para investir na campanha.
Assim como os Calheiros, Biu conseguiu “trazer recursos” para obras em Alagoas, principalmente em Maceió, numa parceria com o ex-prefeito Cícero Almeida. Ele apresenta portfólio extenso neste quesito, desde a época de deputado federal, graças à relação próxima que ainda mantém com o PT. Entre as empreitadas articuladas por Biu, está o inacabado projeto do VLT, que deveria estar levando passageiros de Rio Largo até o shopping de Mangabeiras, com frequência muito maior que a atual.
E se “Biu resolve”, como diz um dos lemas criados pelos seus marqueteiros, sua primeira experiência coordenando uma gestão não é a cara do sucesso propagado pelos seus ex-indicados para comandar a pasta da Educação do governo de Téo, desde 2011.
De lá para cá, nem sua gestão nem a do governo do qual fez parte fizeram Alagoas melhorar seus vergonhosos indicadores. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), Alagoas tem o pior desempenho nas três áreas avaliadas com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012: matemática, leitura e ciências.
Agora, um dilema se apresenta para Biu e seus eleitores resolverem: como ser aliado e adversário de todos os campos da política nacional e ainda atrair votos conscientes dos alagoanos? Benedito já respondeu que não é oposição a ninguém. Será este seu trunfo?
Eduardo Tavares (PSDB)
De olho no cenário dos adversários e na forte rejeição ao seu próprio governo, Teotonio Vilela Filho viu no procurador de justiça Eduardo Tavares um nome do PSDB capaz de fugir às regras da política tradicional caeté. Mas a criatura se confunde com o criador da coligação “Um novo jeito de fazer” (PSDB / PRB).
Téo é a bússola na reintrodução do ex-vereador de Traipu à política eleitoral de Alagoas. Nesta função de oráculo, o governador aproveitou a necessidade de trocar o comando da Defesa Social e fez de Eduardo Tavares um “novo ex-secretário” em 72 dias, chamando de desempenho a aparição de sua invenção na pasta que concentra os principais problemas de sua gestão.
O governador também pediu calma quando a tripulação da nave sumiu no momento de formação da chapa. E o marketing político logo se apressou para tornar positivo o apelido de ET e traduzir o fracasso do isolamento político de Téo com a expressão “solidão virtuosa”.
Mas nunca se está só, quando se representa um projeto de oito anos, com sombras das alianças de um passado bem recente.
Téo, o tutor do candidato ET, construiu parte importante deste planeta com o auxílio de ex-aliados como Renan Calheiros e Benedito de Lira. Se Téo não tivesse feito tão bem os conchavos com os seus atuais adversários, talvez nem existisse o quadro da velha política coronelista de Alagoas que o candidato tucano diz combater.
A relação de Renan com Téo já foi tão próxima que houve e ainda há rumores de que ET faria parte de uma suposta estratégia do governador tucano para favorecer a candidatura de Renan Filho, com vistas à assunção de um cargo vitalício no Tribunal de Contas da União.
Tal boato tem como base o fato de a dupla Renan e Téo já ter vencido três eleições consecutivas como aliados, em 1994 e 2002, quando conquistaram mandatos de senador, e em 2006, com Renan apoiando a conquista do primeiro mandato do tucano para o Palácio República dos Palmares.
Se em 2006, Téo e Renan apoiavam Ronaldo Lessa para o Senado. Em 2010, Téo se elegeu em parceria com Biu de Lira e Cícero Almeida, contra Lessa, Collor e Renan. Mas muito antes do fim de seu segundo mandato, o governador tucano já rompeu a aliança com Biu, Almeida e todos os demais partidos que apoiaram sua reeleição.
“Esse é o novo”, diz um dos lemas de campanha do ET tucano de 59 anos. Mas não há novidade alguma na iniciativa do ex-chefe do Ministério Público em se aliar à oligarquia do açúcar e ao seu maior representante da atualidade. Téo não teve sucesso ao tentar atrair o colega usineiro João Lyra para a chapa de ET, nas vésperas das convenções. Mas Tavares terá o apoio de outro membro da “açucarocracia” alagoana, o presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Toledo (PSDB), que se assustou há alguns dias quando soube que Téo quer mesmo eleger ET.
Eduardo Tavares também é ex-amigo do senador Fernando Collor, que teve participação política na sua primeira eleição para o comando do MP, em 2009; quando o ex-presidente esteve bem próximo ao governador Téo. Em retribuição ao apoio político, ET chegou a permitir que Collor indicasse pessoa de sua confiança para assessorá-lo quando conquistou a Procuradoria Geral de Justiça (PGJ). Hoje, Collor e ET não mais frequentam os mesmos ambientes.
É... a velha política alagoana está mesmo transformada. De uma abarrotada colcha de retalhos, foi feita uma "novíssima" peça de fuxico.
Por redação com Blog do Davi Soares
quarta-feira, 23 de julho de 2014 | 09:28 |
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