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Fiéis Alagoanos largam até Facebook para cumprir penitência na Quaresma

Jejum, oração e caridade marcam Semana Santa; Nesse Domingo de Ramos


Dona Telma Nogueira

Carne, refrigerante, chocolate, bebida alcoólica e até o Facebook ocupam o primeiro lugar no ranking das penitências da Semana Santa ou nos quarenta dias que antecedem à Páscoa, a ressureição de Cristo. Muitos fiéis alagoanos não esquecem o compromisso que assumiram com a Igreja e mantêm um costume antigo de abdicar do que mais gostam com a intenção de se aproximar ainda mais do espiritual.

Há mais de 45 anos, Telma Wanderley Nogueira cumpre com seus deveres cristãos e experimenta “um pouco” do sofrimento de Jesus durante duas semanas que encerram os quarenta dias, conhecido como período da Quaresma (Cristo no deserto). Seu maior vício, o Facebook, passa a ficar em último plano. Ela garante que é difícil substituir as três horas diárias para se render a orações. “O Face faz parte da minha vida, principalmente à noite, quando chego a ficar até altas horas na frente do computador. Tomei coragem e fiz a vontade do Pai celeste, retirando dessa época o costume e transformando isso em orações cotidianas”.

Outro “sacrifício” relatado pela aposentada é evitar comentários negativos sobre as pessoas. Conforme ressalta, tal prática está bem aquém do que Jesus Cristo ensinou à humanidade em seus mandamentos. “Tenho o costume de mencionar pontos negativos em relação a algumas pessoas e decidi deixar para lá. Se Deus quiser, quero continuar me educando, mesmo passados estes quarenta dias, em respeito aos mandamentos do Senhor”.

Quando questionada sobre a importância da penitência, Telma Nogueira alega que o lado espiritual do ser humano torna-se imenso, agradando a Deus, Aquele que enviou seu filho único para salvar a humanidade de seus pecados. Ela frequenta a Igreja Nossa Senhora das Graças, no bairro de Ponta Grossa, e se alegra ao citar o Divino Pai Eterno como o “ser” que perdoa as faltas e abençoa até os que têm preconceito. “Presencio demais a questão do preconceito, quando descobrem que estou fazendo penitência em agradecimento à criação do mundo, ao filho enviado e ao amor depositado; mas não ligo e deixo o povo falar”, reforça.

‘É uma obrigação minha dar um retorno a Ele’

Jovens também fazem penitência, a exemplo do estudante de Direito Carlos Barboza Rodrigues, de 20 anos, que frequenta a Paróquia Divino Espírito Santo, na Jatiúca. Nas quartas e sextas-feiras da Quaresma, ele dispensa aquilo que mais gosta de comer: carne, seja ela qual for. Apesar do sacrifício, considera que é o mínimo a “fazer para quem fez demais pela humanidade”.

“Cristo veio como um ato de compaixão e este é o tempo para nos reaproximarmos Dele. Por isso, nos quarenta dias, não custa nada abrir mão do que tenta você, do que te força a pecar. E, como sou louco por carne, resolvi me abster na quarta, por um fator simbólico e, na sexta, por tradição da própria Igreja. É uma obrigação minha dar um retorno a Ele”, expõe Carlos ao citar que muitas pessoas da sua idade já aderem à prática, abrindo mão de chocolate e refrigerante.

Semana Maior

Jejum, oração e caridade. Dever de todo cristão durante o ano inteiro e, principalmente, na Semana Santa, conhecida como Semana Maior, por contemplar a festa mais aguardada pelos fiéis. A cor roxa invade igrejas, os corais se adaptam à liturgia das missas e a comunidade busca a conversão.

Conforme explica o diácono da Arquidiocese de Maceió, Rodrigo Rios, a Semana Santa traduz o mistério da Paixão, Morte e Ressureição de Jesus Cristo, e o Tríduo Pascal representa os três dias que se estendem até a Páscoa. A Quarta-Feira de Cinzas (início da Quaresma) e a Sexta-Feira da Paixão são dias exclusivos ao jejum, conforme preconiza o Código de Direito Canônico. Já os quarenta dias funcionam como um retiro espiritual de preparação para a grande festa religiosa.

“Os católicos de maior idade não devem comer carne nestes dois dias. Agora, nos quarenta, fica a cargo do cristão renunciar algo que vai lhe custar, como algum alimento, internet, televisão ou outros vícios do cotidiano. É a chamada ‘prática de mortificação’, em que a pessoa vai ‘morrendo aos poucos’. Apesar disso, a penitência serve para mostrar que aquele costume não é mais forte do que você”, destaca Rodrigo, salientando a Via-Sacra como uma forma de oração, relembrando o caminho de Cristo até o Calvário, e a caridade como o ato de dar esmolas aos pobres.

O diácono ressalta, também, que os domingos não são contados para a prática da penitência, visto que é o dia da Ressureição, de alegria, de festa.

Significação

A Semana Santa começa no Domingo de Ramos (entrada triunfal de Jesus em Jerusalém) e prossegue até a quinta-feira, quando a Igreja celebra a Instituição da Eucaristia, com a Missa da Ceia do Senhor, e o Lava-Pés, em que Jesus Cristo (representado pelo padre) lava os pés dos discípulos.Já na sexta, nenhuma igreja celebra missa, e sim, a Paixão e Morte de Jesus Cristo, com a procissão do Senhor morto e o tradicional Beijo na Cruz. O sábado de Aleluia é a espera da Ressureição, em que todos se voltam para o silêncio. E, por fim, o dia mais aguardado em que Cristo ressuscitou dos mortos para a vida eterna, o domingo da Páscoa.




Diácono Rodrigo Rios explica significado da Semana Santa(Foto: Arquivo pessoal)


Por:Gazeta Web

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