De modo especial,o fato da morte nos leva á experiência de nossos limites.O mistério da morte nos leva a pensar sobre o início de nossa vida e,mais propriamente,sobre o sentido que ela tem.A consciência de nosso próprio fim nos leva a pensar num sentido para a existência,para que não termine no vazio e no absurdo.Nesse sentido,podemos dizer que a morte está na vida.
Conhecemos todas as coisas como tendo início e fim.Quer dizer,o nosso jeito de entender a realidade se dá através de nossa consciência que compreende tudo num tempo finito entre o início e o fim.Ao entendermos as coisas como passageiras,também nos compreendemos como finitos.Basta olharmos para a própria consciência:não lembramos de nosso nascimento,de nossas primeiras emoções,das nossas primeiras palavras.As primeiras lembranças devem ser lá pelos três anos,ainda que muito frágeis.Assim como nosso corpo,a consciência não nasceu já pronta,ela também tem um início e um desenvolvimento.
Por exemplo,uma criança no primeiro ano de vida pode brincar com o próprio pezinho e ter uma dupla sensação:sentir cócegas no pé e a sensação de estar mexendo com algo pelas mãos.Aí tudo ainda está confuso e separado.Na idade de três a quatro anos nós fazemos a experiência fundamental de nossa consciência.Fazemos duas descobertas básicas.Primeiro,o dar-se conta do próprio eu; eu sou alguém único e ninguém pode ocupar o meu lugar.A segunda descoberta:esse eu um dia pode ter um fim.É a consciência do fato da morte.
A morte arromba nossa consciência muito cedo. Além do mais,é uma experiência que nos marca. Começamos a ter medo do escuro;os sonhos viram pesadelos.É a primeira e fundamental experiência de nossos limites.O filósofo Heidegger afirma que´´O homem é um ser-para-a-morte``.A nossa existência está entre o nascimento e a morte.E cada instante da vida é um contínuo nascer e morrer que se sucedem desde o início até o fim.A vida humana se orienta muito pouco pelos instintos.O nosso destino é traçado por ações culturais e intencionais. Os atos conscientes são impulsionados por um recurso fantástico de nossa mente:a capacidade de perguntar.A idade dos porquês faz a criança mergulhar nas questões mais fundamentais da existência.E elas nos fazem as perguntas mais inesperadas,pois são as perguntas pelas coisas óbvias.Justamente aí estão as questões do sentido da vida.
De onde aprendemos a perguntar por quê? Há tantos sentidos nesse perguntar.O porquê pode ser um pedido de explicação;pode ser uma indignação diante de uma injustiça;pode significar gratidão por um gesto inesperado;pode ser incompreensão diante do sofrimento e da morte.O porquê é justamente o olhar para trás e para diante de nossos limites.Por que existo? eu e não o nada? Posso responder:meus pais decidiram que eu existisse.Mas por que nasci eu e não outro no meu lugar? Não foi escolha minha nascer,como não posso escolher não morrer.Essas questões ultrapassam nossas possibilidades e sobre elas nada podemos decidir.Mas perguntar por que nascer e morrer é a orientação básica para as escolhas sobre o modo de viver.Decidir viver,e viver bem,é responsabilidade nossa.E essa responsabilidade é intransferível;só eu posso viver minha vida.
Desde cedo aprendemos nossos limites e são como pedras fundamentais para o sentido da vida.São-nos muito valiosos as experiências das pessoas que viveram antes de nós,assim como as esperanças para uma vida futura.Propriamente falando,a vida não tem um sentido;não existe um destino esperando por nós.O sentido é decisão e construção nossa.A cada novo instante devo decidir não deixar a vida correr como os ponteiros do relógio.Deixar a vida passar,no fundo,é uma escolha.E cada decisão é um corte,um sofrimento.Por isso,a vida é uma paixão. Pode ser uma paixão inútil,mas pode ser uma vida cheia de sentido,de vibração e de esperança.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012 | Notícia da Hora
A Morte está na Vida
De modo especial,o fato da morte nos leva á experiência de nossos limites.O mistério da morte nos leva a pensar sobre o início de nossa vida e,mais propriamente,sobre o sentido que ela tem.A consciência de nosso próprio fim nos leva a pensar num sentido para a existência,para que não termine no vazio e no absurdo.Nesse sentido,podemos dizer que a morte está na vida.Conhecemos todas as coisas como tendo início e fim.Quer dizer,o nosso jeito de entender a realidade se dá através de nossa consciência que compreende tudo num tempo finito entre o início e o fim.Ao entendermos as coisas como passageiras,também nos compreendemos como finitos.Basta olharmos para a própria consciência:não lembramos de nosso nascimento,de nossas primeiras emoções,das nossas primeiras palavras.As primeiras lembranças devem ser lá pelos três anos,ainda que muito frágeis.Assim como nosso corpo,a consciência não nasceu já pronta,ela também tem um início e um desenvolvimento.
Por exemplo,uma criança no primeiro ano de vida pode brincar com o próprio pezinho e ter uma dupla sensação:sentir cócegas no pé e a sensação de estar mexendo com algo pelas mãos.Aí tudo ainda está confuso e separado.Na idade de três a quatro anos nós fazemos a experiência fundamental de nossa consciência.Fazemos duas descobertas básicas.Primeiro,o dar-se conta do próprio eu; eu sou alguém único e ninguém pode ocupar o meu lugar.A segunda descoberta:esse eu um dia pode ter um fim.É a consciência do fato da morte.
A morte arromba nossa consciência muito cedo. Além do mais,é uma experiência que nos marca. Começamos a ter medo do escuro;os sonhos viram pesadelos.É a primeira e fundamental experiência de nossos limites.O filósofo Heidegger afirma que´´O homem é um ser-para-a-morte``.A nossa existência está entre o nascimento e a morte.E cada instante da vida é um contínuo nascer e morrer que se sucedem desde o início até o fim.A vida humana se orienta muito pouco pelos instintos.O nosso destino é traçado por ações culturais e intencionais. Os atos conscientes são impulsionados por um recurso fantástico de nossa mente:a capacidade de perguntar.A idade dos porquês faz a criança mergulhar nas questões mais fundamentais da existência.E elas nos fazem as perguntas mais inesperadas,pois são as perguntas pelas coisas óbvias.Justamente aí estão as questões do sentido da vida.
De onde aprendemos a perguntar por quê? Há tantos sentidos nesse perguntar.O porquê pode ser um pedido de explicação;pode ser uma indignação diante de uma injustiça;pode significar gratidão por um gesto inesperado;pode ser incompreensão diante do sofrimento e da morte.O porquê é justamente o olhar para trás e para diante de nossos limites.Por que existo? eu e não o nada? Posso responder:meus pais decidiram que eu existisse.Mas por que nasci eu e não outro no meu lugar? Não foi escolha minha nascer,como não posso escolher não morrer.Essas questões ultrapassam nossas possibilidades e sobre elas nada podemos decidir.Mas perguntar por que nascer e morrer é a orientação básica para as escolhas sobre o modo de viver.Decidir viver,e viver bem,é responsabilidade nossa.E essa responsabilidade é intransferível;só eu posso viver minha vida.
Desde cedo aprendemos nossos limites e são como pedras fundamentais para o sentido da vida.São-nos muito valiosos as experiências das pessoas que viveram antes de nós,assim como as esperanças para uma vida futura.Propriamente falando,a vida não tem um sentido;não existe um destino esperando por nós.O sentido é decisão e construção nossa.A cada novo instante devo decidir não deixar a vida correr como os ponteiros do relógio.Deixar a vida passar,no fundo,é uma escolha.E cada decisão é um corte,um sofrimento.Por isso,a vida é uma paixão. Pode ser uma paixão inútil,mas pode ser uma vida cheia de sentido,de vibração e de esperança.
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